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Sábado, 16 de Abril de 2011, 19h:18

Grupo Modelo: Um case de sucesso

Conheça a história da família que deixou o Paraná com destino a Rondônia, mas que, por não saber direito o caminho, acabou ficando em Cuiabá

ISADORA SPADONI

A história do grupo Modelo não é apenas o relato de um empreendimento que deu certo. A começar pela conjuntura dos fatos, que chega a ser mística. E para Altevir Magalhães – um dos seis irmãos que construíram essa história, muito dependeu também dos astros. “É como estar no lugar certo e na hora certa”, destaca.

Perguntado se faria tudo de novo, com o objetivo de chegar onde hoje está, Altevir Magalhães não sabe dizer. O discurso, que pode soar um certo arrependimento, tem uma justificativa: a experiência e as precauções adquiridas com o tempo pelo empreendedor são uma realidade distante da sequência de ações intuitivas que deram início ao negócio dos irmãos Altevir, Altair, Aldecir, Clairton, Elizete e Helio Rubens, na década de 1980.

Desde a saída de Altevir de sua cidade natal e a vinda a Cuiabá, que ocorreu por acaso, até a atual rede que conta com mais de 19 lojas e uma proposta que faz jus ao nome que leva: ser modelo em todas as categorias atendidas, por ser um empreendimento com alta capacidade de renovação.

“Desde o início o Modelo continua sendo uma empresa curiosa, que aprende rápido, busca estar sempre olhando para onde o mercado está indo, o que está acontecendo. Isso faz parte do nosso DNA – a curiosidade, a capacidade de aprender, de transformar-se em uma coisa nova e colocar em prática suas novas idéias.”

Mayke Toscano/Hipernotícias

Nos anos 80, com a grande ‘diáspora paranaense’, advinda pela mecanização das terras e compra destas por ricos fazendeiros, muitos moradores daquela região se viram saindo de sua terra natal rumo às longínquas localidades, para iniciar uma nova vida. O raciocínio era o seguinte: venda um pequeno pedaço de terra no Paraná e ganhe (do projeto de colonização do governo) ou compre, a baixo custo, um grande pedaço de terra no Acre, Mato Grosso ou Rondônia.

A observação sempre atenta e a busca incessante pelo novo motivaram Altevir Magalhães a sair de Guaraniaçu-PR (437 km a oeste de Curitiba) rumo a... Rondônia. “eu pensei: vou para Rondônia, saber o que está acontecendo que todo mundo quer ir pra lá”.

Mas era evidente que o desejo em sair de sua cidade natal não consistia apenas em um novo desafio, mas sim uma vontade antiga. “A minha cidade estava encolhendo. Estava e continua a encolher até hoje. O último censo revelou que a cidade está um pouco menor do que era no ano 2000 (14.583 habitantes). Eu queria ir para uma cidade maior, que estivesse crescendo mais. Eu precisava fazer mais do que eu fazia lá.”

Altevir não tinha idéia de como chegar a Rondônia, e acabou nunca chegando. Por que veio para Cuiabá? “É um dos mistérios da vida. Eu sempre digo o seguinte: Deus coloca a gente em determinados lugares”. Como não conhecia o trajeto, no primeiro dia foi até Presidente Prudente-SP, saindo pelo norte do Paraná. No segundo, até Campo Grande-MS. No terceiro, chegou a Cuiabá. Quando aqui chegou, ficou sabendo que Rondônia estava muito longe, sem acesso a estradas, e Cuiabá foi se mostrando muito mais receptiva para os negócios do que alguém jamais poderia imaginar. O ano era de 1984, mais precisamente fim de agosto - o mês do cachorro louco. Fazia calor imenso e muita poeira, o período era de efervescência, pessoas chegando, garimpo, extração de madeira. “Não adianta você ter vontade de crescer. Você precisa estar naquele lugar para conseguir se desenvolver. E Mato Grosso me ajudou muito a isso. O Estado estava dando um grande salto, foi um momento muito bom”.

A família já tinha alguma experiência com comércio e armazéns, e de repente se viu comprador de supermercados. Existiam muitas lojas abrindo e fechando, e pessoas procuravam Altevir para oferecer pontos desses estabelecimentos.

O primeiro mercado Modelo abriu as portas no bairro Cristo Rei, em Várzea Grande, com tímidos 300 metros quadrados, muitas dívidas e alguns funcionários. “Era uma loja bem acanhada, mas para a época era boa, toda arrumadinha”. Dois anos depois, em 86, foi inaugurada a primeira loja em Cuiabá, no bairro CPA II. Para dar suporte às lojas de varejo, vieram, no ano seguinte, a Transportadora Modelo e o Atacado Modelo, ambos no bairro Coxipó. Hoje, são ao todo 19 empresas, entre supermercados, hipermercados, transportadoras, centros de distribuição e atacado - nas cidades de Cuiabá, Tangará da Serra e Rondonópolis, além de 11 farmácias e nove restaurantes.

A curiosidade e o aprendizado se fizeram necessários desde o início devido a vontade de alçar voos maiores. Se em outubro de 1984 Altevir não conhecia nada de supermercados, em outubro de 1985 ele já se considerava um entendedor do ramo acima da média. “Eu olhava os supermercados maiores, queria saber como eram, porque tinham mais produtos”.

As muitas cabeças pensantes, com seus consensos e divergências, foram responsáveis por proporcionar equilíbrio e ordem à empresa durante tantos anos. Altevir acredita que uma empresa necessita de vários tipos de pessoas - as visionárias, as empolgadas, outras mais chatas, controladoras, e as que trabalham na manutenção do que está sendo feito. “O empreendimento exige vários tipos de pessoas. E nisso nós tivemos muita sorte, porque cada um dos irmãos tem uma forma de fazer. Otimistas, visionários, conservadores. E a soma desses talentos - e a forma com que cada um faz - é o que constrói esse negócio.”

BOAS IDEIAS

Mayke Toscano/Hipernotícias

A boa ideia e a vontade de fazer são apenas o primeiro passo. O Modelo pode ser considerado um grupo que se destaca frente a outros do setor devido a sua capacidade de entender quem são seus clientes e o que eles precisam. E essa relação direta possibilita à empresa criar novos serviços, e ofertá-los com excelência. “Nós nunca tivemos a preocupação de ser a maior empresa do mercado, ou de ter mais lojas. Antes de ser maior, você tem que fazer melhor as coisas. Eu nem estou preocupado em ser melhor que concorrente A, B ou C. A minha preocupação é em fazer bem feito aquilo que eu me propus a fazer”.

Para alcançar este objetivo, cada loja, independente do seu espaço e localização, é minimamente estudada, com o intuito de atender bem o público que vai frequentá-la. O trabalho se concentra em saber se cada loja se encontra alinhada com o público da região - considerando um raio de um a dois quilômetros para cada dois mil metros de área de loja. “Nós temos muito claro quem são nossos clientes, até onde podemos ir, que tipo de serviço nós podemos prestar a eles. As vezes temos que abrir mão de determinados tipos de clientes para cuidar melhor de outros”.

O empreendedor acredita que as maiores empresas, ou as com melhores desempenhos, não são necessariamente aquelas cujos empreendedores são os mais arrojados. As vezes ganhar dinheiro é muito mais método e disciplina do que boas ideias. “Fazer manutenção do que foi construído é tão importante quanto construir”.

O grupo Modelo conta com aproximadamente três mil funcionários distribuídos entre os 10 supermercados, três hipermercados, um atacado, um centro de distribuição, três distribuidoras, uma transportadora, 11 farmácias e nove restaurantes. São mais de 30 mil produtos diferentes em todos os departamentos, garantidos por cerca de mil fornecedores diferenciados (de pequenos a grandes provedores e companhias multinacionais). O faturamento anual no ano de 2010 foi de 540 milhões, e em 2011 o grupo pretende atingir os 600 milhões. “O supermercado Modelo representa quase 80% disso”, ressalta Altevir.

Para os anos de 2011 e 2012 o grupo tem alguns projetos em andamento. Duas lojas estão sendo preparadas para reforma, e quatro novas lojas serão construídas nas cidades de Cuiabá, Primavera do Leste, Cáceres e Várzea Grande. Em Cuiabá, a nova unidade - um “atacarejo” - estará localizada na avenida Beira Rio, onde antes funcionava uma distribuidora da rede. As outras três novas lojas também serão atacados.

PRÊMIOS

A rede de Supermercados Modelo está no ranking das “Maiores e Melhores de 2009”, realizado pela Revista Exame e Portal Exame, da Editora Abril. Entre as 100 maiores empresas do Centro-Oeste, a rede Modelo está na 43ª posição. Quanto à classificação nacional, a rede ocupa a 813ª colocação no ranking das 1000 empresas selecionadas.

Também em 2009, na edição anual “As melhores da Dinheiro”, produzida pela revista “IstoÉ Dinheiro”, na qual foram premiadas 500 empresas dividas em 25 categorias, a rede Supermercados Modelo foi classificada em 1º lugar no quesito Inovação e Qualidade da categoria Varejo Nacional. Na gestão Responsabilidade Social a rede ficou na segunda posição, ficando atrás apenas da gigante varejista Pão de Açúcar.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Como fruto não cai longe do pé, a política de responsabilidade socioambiental do grupo modelo não poderia diferir dos padrões adotados pelo grupo: prezar pela curiosidade e inovação. Cada área de atuação foi muito bem pensada ao selecionar um projeto a ser apoiado. E são centenas deles, nas áreas de assistência social, cultura, desenvolvimento comunitário, educação básica infantil, esporte, meio ambiente, relacionamento com o público e saúde. O site www.modeloresponsavel.com.br divulga o balanço social da rede, a listagem de projetos que recebem apoio e também informações necessárias aos que desejam solicitá-lo.

Para Altevir, empreender é: APRENDER!

1. Dicas para quem quer iniciar um empreendimento

Tem uma frase que eu gosto muito, que diz: “Não corra atrás do dinheiro, corra atrás dos seus sonhos”. A leitura que eu faço disso é a seguinte: faça aquilo que você gosta, não um negócio que você acha que vai ganhar mais. Eu não sou contra o dinheiro, mas normalmente nós fazemos melhor aquilo que gostamos de fazer. A minha primeira dica é essa: não corra atrás do dinheiro somente. Corra atrás daquilo que você gosta de fazer e que lhe dá prazer. Nem sempre você consegue conciliar isso. Segundo: se você quer ter um negócio, além de ser uma coisa que você gosta e saiba fazer, tem que estar preparado para trabalhar mais que a média. Ninguém consegue montar um bom negócio se não tem tempo para trabalhar, se está ocupado. Terceira coisa: não é só trabalhar muito, é se cercar de pessoas competentes. E não adianta eu trabalhar numa coisa que eu gosto, trabalhar muito, porque sozinho você não tem nada. Não se constrói um negócio sozinho. Vamos trabalhar muito no negócio, mas principalmente vamos ter boas equipes, ter gente que sabe o que está fazendo. E também: uma pessoa que queira ter um negócio precisa saber que cada momento exige uma ação. E eu não sei como ensinar isso. Tem hora que você tem que correr muito, tem hora que você tem que ter uma paciência muito grande. Então, a pessoa que quer ter um negócio precisa ter habilidades de relacionamento, tem que saber a hora em que tem que correr e tem que parar. E outra coisa que falei bastante: curiosidade em saber do que os meus clientes precisam. O que eu posso fazer para melhor o que já está sendo feito? Como eu gostaria de ser tratado? Eu acho que não existe uma fórmula para fazer um negócio. Tem algumas coisinhas que se a pessoa tiver cuidados, se cercar de bons profissionais, uma equipe boa, entender do que o mercado precisa, trabalhar um pouquinho mais... de uma forma ou de outra todos os empresários seguiram esse mesmo caminho.

2. O Custo Brasil é realmente um obstáculo para o empreendedor?

O Custo Brasil é um problema seriíssimo, mas precisa ser entendido o seguinte: tem Custo Brasil só para a minha empresa, ou tem para todas? Se tem para todas, então ele é um problema de todos. Se os impostos são caros? São. Então espera aí, se é para todo mundo, não deveria ser isso que está tornando minha empresa melhor ou pior. Ele só dificulta meu trabalho, assim como o dos meus concorrentes. Eu acho que quando uma empresa dá errado, ela dá no mesmo cenário que outras dão certo. O congestionamento é igual para mim e para você, a taxa de juros é cara para mim e para você, o imposto é caro, então será que esse é o problema principal? Não creio. O custo Brasil é um problema. Hoje o Brasil precisa rever uma série de coisas, uma série de gastos, o nosso governo central, principalmente o governo federal, não pode continuar gastando o que está gastando. Nós estamos deixando de ter um país melhor, de repente, porque estamos gastando mais do que o limite, mas não acho que seja esse o grande problema. É um problema a mais, mas não é o que deveria adiantar o atrasar da empresa. Só uma ressalva: para quem está começando o negócio, a burocracia, parte do Custo Brasil, aí sim é um problema. Inibe muito o empreendedor. Quando eu falo que ele tem que trabalhar muito, é porque boa parte do tempo é perdido cuidando de papel, carimbo, reconhecimento de firma, de coisas que são anacrônicas. E talvez isso gere problemas sérios para o empreendedor que às vezes não tem experiências para lidar com tudo isso. Mas eu insisto, o cenário é igual para todo mundo. Se você está mais preparado, tem mais suporte, a sua vantagem competitiva é maior.

3. O que é mais importante: dinheiro ou criatividade?

Dinheiro nunca foi um problema, dinheiro é solução. Mas como eu disse, se você correr atrás do dinheiro, você não vai construir um bom negócio. Se você correr só atrás do dinheiro, ele vai fugir de você. Evidente que ter boas ideias, ser criativo, enxergar uma coisa que seu concorrente não enxergou, vai fazer a diferença. Mas, consultores dizem o seguinte: qual empresa vai sobreviver? A maior? Não necessariamente. Qual a empresa que vai atender melhor seus clientes? A melhor? Não necessariamente. As empresas que vão sobreviver são aquelas mais ágeis, mais rápidas, que percebem para onde o cliente está indo com mais rapidez. São aquelas que buscam criar certos serviços que o cliente ainda nem pediu. E a empresa precisa ser treinada, curiosa. É preciso contratar pessoas curiosas, investir em pessoas capazes. Se alguém nos dá uma ideia, temos que saber exatamente como vamos aproveitá-la. Se alguém sugerir alguma coisa, vamos ouvir.