A idosa é viúva de um grande colecionador e negociante de artes, sendo que a filha presa é acusada de subtrair 16 peças de artistas consagrados. Entre elas, há quadros de Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti. Somente três dos quadros são avaliados em mais de R$ 300 milhões. Esses três já haviam sido negociados e foram recuperados em uma galeria de arte de São Paulo.
Os mandados de busca e apreensão foram expedidos para 14 locais, mas foi um apartamento em Ipanema que acabou se demonstrando como o principal ponto para os policiais. No local foram encontrados três dos acusados - incluindo a filha - e 11 obras de arte.
As peças estavam escondidas numa cama de casal, entre o colchão e o estrado de madeira. "Todas elas estavam embaladas, com plástico bolha, papel manteiga, como se já estivessem prontas para uma venda, ou pelo menos protegidas", disse o perito Nilton Thaumaturgo, do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, que acompanhou a apreensão. "A única obra que estava também com plástico bolha e papel manteiga, porém rasgado e aparecendo, era justamente o Sol Poente, a princípio a obra mais cara."
Na operação, batizada de Sol Poente, foram presos Jacqueline Stanescos, Rosa Stanesco Nicolau, Gabriel Nicolau Traslavinã e a filha da idosa, cujo nome não foi divulgado pela polícia para proteger a vítima. "A gente não quer correr o risco de revitimização, de a idosa vir a ser alvo de outros grupos criminosos", explicou o delegado Gilberto Ribeiro, titular da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa de Terceira Idade, que comandou as investigações.
Além deles, Diana Rosa Aparecida Stanesco Vuletic e Slavko Vuletic estão sendo procurados. Um sétimo envolvido, Ronaldo Ianov, morreu durante o curso da investigação.
Golpe começou a ser aplicado em 2020
O golpe começou a ser aplicado em janeiro de 2020, quando a idosa saía de uma agência bancária em Copacabana e foi abordada por uma das envolvidas, que se apresentou como vidente. Ela disse que sua filha estaria doente e que morreria em breve. Para reforçar o golpe, ela levou a idosa a outra vidente, que reiterou a "previsão".
Por ter um lado místico, e pelo fato de ter uma filha que enfrenta problemas psicológicos desde a adolescência, a idosa foi convencida - inclusive pela filha - a realizar pagamentos para "tratamento espiritual". "A filha disse para a mãe que tinha que pagar o que fosse para não sofrer daquele mal", narrou o delegado. Em menos de três semanas, foram realizadas oito transferências bancárias que ultrapassaram R$ 5 milhões.
Segundo a polícia, dias após o início do falso tratamento, a filha começou a isolar a mãe de outras pessoas e dispensou funcionários que prestavam serviços domésticos a ela. A idosa desconfiou das atitudes e suspendeu as transferências. A partir daí, ela passou a ser agredida e ameaçada.
O cárcere privado durou cerca de 15 meses, entre janeiro de 2020 e abril do ano passado. A idosa, contudo, só denunciou o caso à polícia no início deste ano. "Ela estava amedrontada e com aquele sentimento de mãe, de ter que denunciar a própria filha", disse Ribeiro.
Peças passarão por perícia
As peças recuperadas agora passarão por uma perícia minuciosa antes de serem devolvidas à proprietária - o que poderá levar meses. A galeria paulista que chegou a adquirir os quadros, por ora, não é investigada. À polícia, o proprietário afirmou que não desconfiou do negócio por conhecer a família e pelos quadros terem sido entregues a ele pela própria filha da idosa. Ele disse ainda que, além daquelas peças, chegou a vender outras duas obras para o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires, informação que a polícia ainda tenta confirmar.
Além da subtração das obras de arte, a filha e os demais envolvidos também são suspeitos de roubar joias, avaliadas em R$ 6 milhões, e desviar dinheiro da vítima através de transferências bancárias - o valor chegaria a R$ 9 milhões.
O Estadão tenta contato com a defesa dos acusados, mas ainda não obteve retorno.
(Com Agência Estado)
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