As informações constam do voto do ministro Alexandre de Moraes que abriu nesta sexta-feira, 2, o julgamento que pode levar à condenação de Fátima de Tubarão. Os ministros têm até a próxima sexta-feira, 9, para depositar seus votos sobre o caso. Ela é acusada dos crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, associação criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Em depoimento prestado à Justiça - uma das últimas fases do processo antes do julgamento - Fátima alegou que foi para Brasília no dia 6, pela noite, para o acampamento montado em frente ao QG do Exército. Ela disse que seu objetivo era "conversar" com Moraes, para que o ministro lhe apresentasse "o código-fonte" das urnas eletrônicas. Ainda de acordo com a ré, o plano inicial era conversar com Moraes na segunda-feira.
Segundo Fátima, no domingo, dia 8, "um carro de som avisou no acampamento de Brasília que havia chegado a hora". Ela narrou que, ao meio dia, autofalantes reproduziram a mensagem "para que fossem até a Praça dos Três Poderes, onde haveria a "melhor picanha", onde se deslocariam por dez quilômetros a pé para visitar a casa que era do povo".
Alegou que quando chegou à Praça dos Três Poderes "tudo já estava quebrado" e por isso se considera "vítima de uma armadilha". Negou ter a intenção de depor o Presidente da República.
Sobre o vídeo em que disse estar "quebrando tudo" e bradar "Vamos para guerra, vou pegar o 'Xandão' agora", Fátima alegou que "assustada e descrevendo o que estava presenciando, sem a intenção de incentivar as ações".
"A acusada confirmou ter evacuado nas dependências do Supremo Tribunal Federal, mas alegou não saber de quem era o banheiro. Disse que apenas usou aquele banheiro, porque todos os outros do andar debaixo estavam quebrados e que aquela era a única sala aberta. Ao ser questionada se tem passagem pela polícia, afirmou que já foi presa por tráfico de drogas e desacato à autoridade", registrou ainda o depoimento.
À Polícia Fátima alegou que não conhecia a pessoa que lhe filmou e que "que havia "se cagado", em razão dos tiros e do efeito do gás, o que ocorreu pelo medo que ficou da confusão gerada". Alegou que não sabia por que a pessoa que gravava "disse que ela estaria quebrando tudo". "A multidão gritava que era guerra, então repetia o brado", sustentou.
Ela também narrou aos policiais que "disse que queria pegar o "Xandão" pelo o que este fez os manifestantes passarem com a forte reprimenda policial". Ela negou ter depredado patrimônio público e atribuiu "os atos violentos a pessoas infiltradas, pois o objetivo dos manifestantes era apenas mostrar insatisfação"
Fátima diz que pagou, em espécie, R$ 480 pela viagem até Brasília. Já a volta teria sido custeada por um pastor que era da Igreja Batista de Tubarão e agora participa de uma igreja em Brasília. Ele a levou à rodoviária e pagou uma passagem até Presidente Prudente e outra dali para Tubarão.
Para o ministro Alexandre de Moraes, Fátima "reconheceu a invasão da Praça dos Três Poderes, o ingresso ilícito no Supremo Tribunal Federal, inclusive defecando em suas dependências, assim como a sua passagem pelo QGEx de Brasília".
O ministro somou o interrogatório ao laudo das informações colhidas no celular de Fátima. Os investigadores encontraram no aparelho uma gravação em que ela diz: "É pra limpar... não é pra deixar nem Alckmin nem Lula... ninguém... vamo pedir pra limpar o Congresso... não pode de outro jeito querer tirar só Lula... se tirar Lula fica Alckmin mais bandido ainda... é os três poderes derrubar tudo... só o Lula vamo tirar tudo tudo... é tudo tudo limpa geral... é limpa geral é uma faxina só..."
Vasculhando as mensagens da acusada, a Polícia deu ênfase para o diálogo em que Fátima conta para uma terceira pessoa que "cagou no vaso de Xandão". Em outra conversa, ela diz: "Estava no pelotão de frente nos três poderes né na casa do Xandão. E eu tenho muita coisa para explicar para o senhor e até me desculpar, mas eu sei que devo uma explicação para os senhores".
"Está comprovado, pelo teor de seus interrogatórios policial e judicial, pelos depoimentos de testemunhas arroladas pelo Ministério Público, pelo Laudo, pelas mensagens golpistas, pelas conclusões do Interventor Federal, e outros elementos informativos, que Maria de Fátima Mendonça Jacinto buscava, em claro atentado à Democracia e ao Estado de Direito, a realização de um golpe de Estado com decretação de "intervenção das Forças Armadas"", concluiu Moraes.
(Com Agência Estado)
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