Para o pesquisador indiano, Armatya Sen, o desenvolvimento de uma sociedade precisa aliar crescimento econômico e bem-estar social. Idealizador do conceito de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), Sen elaborou a teoria econômica de que cabe ao Estado conter as desigualdades, já que o mercado sozinho não é capaz de tal regulamentação. Foi com esse pensamento que ele ganhou o Prêmio Nobel da Economia em 1998.
Olhando para Mato Grosso, vemos um Estado que dobrou a produção agrícola nos últimos dez anos e atingiu a incrível marca de 30 milhões de cabeças de gado. Hoje, o Estado de pouco mais de 3 milhões de habitantes responde por 9,5% das vendas internacionais brasileiras. Os números impressionam. Mas somos prósperos?
Convido o leitor para um olhar atento ao mapa de Mato Grosso. Observe o eixo da BR-163 e o imagine como se fosse uma linha reta que cruza o Estado de Sul a Norte. Na parte baixa do mapa temos a região de Rondonópolis, passa por Cuiabá, percorre os municípios do médio-norte até chegarmos à região Alta Floresta e Guarantã do Norte. Mais ou menos na altura de Cuiabá temos uma linha horizontal em que à direita temos Primavera do Leste e Campo Verde e a Oeste a região de Tangará da Serra e Sapezal.
Unindo os eixos vertical com o horizontal temos quase o desenho de uma pipa invertida, daquelas do tipo losango que rabiscávamos no papel quando éramos crianças. Dentro dessas linhas está o Mato Grosso que cresceu. E o que está fora do nosso desenho ainda não se desenvolveu a contento.
A Sudoeste, a fronteira com a Bolívia padece com problemas de segurança pública assim como o Noroeste, que ainda enfrenta os graves crimes ambientais praticados contra a Floresta Amazônica. No Nordeste a própria região já se intitulou como Vale dos Esquecidos e o Sudeste já começa a enfrentar previsões de escassez hídrica.
Note que os problemas ambientais permeiam as questões de segurança pública, de qualidade de vida da população e de crescimento econômico de uma região. É justamente por isso que os instrumentos de gestão ambiental podem trazer as soluções necessárias para o desenvolvimento igualitário de todo o Estado.
O Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico permite identificar as potencialidades de cada região, buscando o desenvolvimento sustentável. É por meio de um licenciamento ambiental coordenado e amplo, planejando a paisagem, que se avalia as regiões de saturamento dos recursos naturais e as novas áreas que podem ser sustentavelmente exploradas, incentivando o empreendedorismo onde se carece de crescimento econômico.
Para a valorização da paisagem, o Cadastro Ambiental Rural é o diagnóstico necessário para identificar onde temos conservação de florestas e onde áreas precisam ser recuperadas evitando prejuízos futuros, como escassez hídrica, por exemplo. O CAR, aliado ao Sistemas de Unidades de Conservação cria o cenário ideal para a monetização dos serviços ambientais prestados pela Natureza. Tanto as áreas conservadas por particulares, quanto as que são protegidas pelo Estado podem e devem receber pelos benefícios que prestam a toda população e ainda podem ser exploradas por outros meios, como turismo e bioeconomia.
Temos o privilégio de ter 60% do nosso território conservado e três biomas. Durante o mês em que celebramos mundialmente o Meio Ambiente, é importante percebermos que nossos ativos ambientais são importantes para nossa prosperidade, nos auxiliando a trilhar o caminho da produção, conservação e inclusão social. Os instrumentos de gestão ambiental são a nossa oportunidade para realizar o sonho das civilizações contemporâneas: progredir sem lançar notas promissórias contra o futuro. Com o bom uso dessas ferramentas, nosso mapa poderá ficar completo e rogamos a Deus que Mato Grosso alce voos cada vez mais altos.
(*) ANDRÉ BABY é engenheiro florestal e Mestre em Sustentabilidade pela FGV.
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