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Artigos Sexta-feira, 04 de Setembro de 2020, 07:55 - A | A

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Sexta-feira, 04 de Setembro de 2020, 07h:55 - A | A

NEILA BARRETO

Memórias do Saneamento em Mato Grosso Depoimento do eng. José Brunelo Bombana – parte I

NEILA BARRETO

ARQUIVO PESSOAL

NEILA BARRETO

A Companhia de Saneamento do Estado de Mato Grosso foi desativada no governo Dante de Oliveira, no entanto, existe até hoje, com seis servidores e altos salários. Para que não sei? Hoje, se um servidor necessitar de uma documentação para comprovar o seu tempo de trabalho é um sacrifício e, muitas vezes, não encontra o documento desejado.

O seu primeiro presidente foi o eng. José Brunelo Bombana. Hoje, ele mantém as suas atividades e vive na cidade do Rio de Janeiro. Buscamos em suas memórias reconstituir partes do passado e, aqui mostraremos as suas memórias em três partes.

Em depoimento a esta historiadora, o eng. Bombana informou que o saneamento em Mato Grosso, iniciou em abril de 1967, quando recebeu por intermédio do seu contemporâneo da Escola Politécnica da USP – Universidade de São Paulo, eng. Roberto Galvão, o convite do governador Pedro Pedrossian, do Estado de Mato Grosso, para presidir a SANEMAT, que havia sido constituída, mas ainda não entrara em operação. Sentiu que era um enorme desafio e, que não podia ignorar. No final daquele mês, embarcou para Cuiabá (MT).

Para sua surpresa, ao chegar em Campo Grande, hoje Mato Grosso do Sul, onde o avião fazia uma escala, foi chamado a desembarcar pelo então Secretário de Viação e Obras Públicas, Eng. Sarkis Tchargan, seu ex-colega de turma, que, ali no aeroporto foi logo lhe dizendo “- Deixe sua mala no avião, que alguém a apanhará em Cuiabá. Você vem comigo para Porto Murtinho naquele táxi aéreo Bonanza que está ali na pista. A cidade está sem água e o governador ordenou que resolvêssemos o problema. Vamos embora, que lhe explico o resto, durante o voo”.

Ao chegar, foram recebidos no campo de pouso pelo prefeito, que desejava saber quando, finalmente, a cidade teria restabelecido o abastecimento de água, mostrando que se tratava de uma calamidade pública que a municipalidade não tinha como resolver sozinha, motivo de seu empenho junto ao Estado.

Uma rápida vistoria mostrou que o sistema era composto apenas por uma bomba centrífuga localizada na margem do rio Paraguai, que recalcava água diretamente para a rede, sem reservatório algum. Como a bomba estava quebrada, a rede estava seca. O secretário comprometeu-se a reparar o equipamento, de imediato, afirmando que, enquanto isso, seria projetado e implantado um novo sistema de abastecimento.

Resolvido o que fazer em Porto Murtinho, Sarkis e Bombana embarcaram para Corumbá (MS), cujo sistema estava obsoleto e não atendia à demanda da cidade, que sofria racionamento de água, cuja qualidade, também, deixava a desejar. A estação de tratamento estava parcialmente inoperante e a água, além de insuficiente, estava poluída pela existência do porto a montante da tomada no rio Paraguai.

O prefeito, dr. Breno de Medeiros Guimarães, à época, já havia assinado um contrato com a empresa Planidro – Instalações Elétricas Ltda., para projetar um novo sistema.  Tinha também obtido do governador, o compromisso de que, tão logo a SANEMAT iniciasse suas operações, ela assumiria o encargo de implantar o novo sistema de abastecimento de água, devendo a municipalidade contribuir com 50% das despesas. Mas o trabalho andava lentamente por dificuldades de comunicação entre as partes. Prometendo agilizar o trabalho, ambos embarcaram para Campo Grande, onde a deficiência do sistema estava na adução, pois os mananciais possíveis ficavam até 30Km distantes do centro de consumo, de então.

Finalmente, depois desta peregrinação durante 2 dias, o eng. José Bombana chegou em Cuiabá e à sede da SANEMAT, instalada numa sala constituída por divisória de madeira, de meia altura, no 4º andar do Palácio Alencastro, sede do Governo do Estado. Lá chegando, verificou que a sala se encontrava fechada, pois o diretor administrativo, economista Nilson Reis, único em exercício àquela época, estava em férias, em Minas Gerais. E a única funcionária da companhia, Isabel Luiza de Abreu, havia sido cedida para a CODEMAT – Companhia de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso, hoje desativada, por não haver trabalho para ela na SANEMAT, naquele momento.

Enquanto esperava pela audiência para apresentar-se ao Governador Pedro Pedrossian, que estava viajando, ocupou-se em ler todo o material existente no arquivo da companhia, que não era muito, incluindo o Livro de Atas e outros livros fiscais. E em manter longas conversas com os Engenheiros Sarkis Tchargian, Roberto Galvão (Secretário de Planejamento) e Paulo Fagundes (Secretário da Fazenda), que o introduziram junto às demais autoridades federais, estaduais e municipais de Cuiabá.

Visitou, também, o sistema de abastecimento de água da capital, operado pela CEMAT - Centrais Elétricas de Mato Grosso, que apenas distribuía a água não tratada, através de uma rede precária e muito limitada. A captação era obsoleta, feita às margens do rio Cuiabá, em área urbana; recalcava para uma adutora insuficiente e em más condições, para uma antiga estação de tratamento, o que é hoje, o Museu do Morro da Caixa d´Água Velha.  Esta não operava todo o ciclo, limitava-se a aplicar o cloro para a desinfecção da água, que passava por decantadores muito pequenos para a vazão aduzida. Não existia rede de esgoto em operação, sendo o efluente das casas lançado na rede pluvial ou nos fundos de vale-drenos naturais da rede hidrográfica local.

Apresentou-se ao governador, discutiu os problemas de saneamento básico do estado como um todo e diversos casos que constituíam prioridade de ação para a SANEMAT. Decidiu-se que deveria iniciar os trabalhos imediatamente, para o que foi editada a portaria 98/67 de 05 de maio de 1967, designando-o para responder provisoriamente pela presidência da companhia, enquanto se convocava a assembleia geral para eleição da diretoria, no dia 18 do mesmo mês. Desta reunião e de outras que se seguiram, foram fixadas para a SANEMAT, as seguintes diretrizes: estruturar-se rapidamente e com custo mínimo; implantar e operar os sistemas de abastecimento de água definidos como prioritários pelo Governo Estadual, a saber: Aparecida do Taboado, Cassilândia, Campo Grande, Corumbá-Ladário, Dourados, Pedro Gomes, Cuiabá, Jaciara, Porto Murtinho, Dom Aquino, Miranda.

Para se ter um mínimo de condições operacionais, o diretor administrativo Nilson Reis contratou um contador, o José Soares e uma auxiliar para serviços de secretária, Eliete Moura. Iniciou-se assim, o processo de estruturação burocrática da SANEMAT. As primeiras providências foram: o recebimento das dotações do estado, constantes do orçamento do ano, pesquisas sobre verbas para saneamento existentes nos orçamentos dos ministérios e autarquias federais; elaboração dos estatutos, normas e formulários necessários para o funcionamento da companhia, prestações de contas e demais ações relacionadas às rotinas administrativas da empresa.

A pequena sala-sede da SANEMAT no Palácio Alencastro tornou-se inviável devido à incorporação de alguns funcionários da CEMAT, que eram específicos da área de saneamento, bem como, da contratação do pessoal técnico necessário. Assim, a sede foi transferida para um apartamento alugado em um edifício de 2 pavimentos, localizado à rua Barão de Melgaço nº 922, esquina da avenida Isac Póvoas. Esta sede foi posteriormente ampliada, através da incorporação dos demais apartamentos e lojas do prédio.

Nesta oportunidade, começaram as contratações para as funções técnicas: a tesouraria ficou a cargo da contadora Nícia Cunha Garófalo, hoje empresária da área do turismo na capital. Não havendo engenheiros disponíveis em Cuiabá, foram publicados anúncios de recrutamento, através do escritório de representação do governo do Estado, na cidade de São Paulo, solicitando um profissional experiente na área de saneamento. Depois de algum tempo e mais publicações, apresentaram-se 2 candidatos, sendo ambos recém-formados na especialidade de metalurgia. O coronel Amorim, então chefe do referido escritório, consultado sobre qual dos dois teria mais pendor para a missão de levar a SANEMAT aos rincões mais afastados do ainda não dividido Estado de Mato Grosso, respondeu: “... olhe, se eu fosse você, contrataria os dois, pois são amigos, vieram juntos aqui ao escritório; e pela conversa, senti que aceitam o desafio como uma expedição dos bandeirantes. Mas isoladamente, creio que nenhum vai, pois além do salário não ser atrativo, aqui em São Paulo existe uma demanda reprimida por este tipo de profissional”. Assim vieram para a companhia os 2 primeiros engenheiros: Edgar Renato Abreu Maffei e Luiz Augusto da Mota Pacheco. Em seguida, vieram José Alberto Vasquez e Oscar José de Castro Lacerda, tendo este último, exercido posteriormente, a presidência da companhia.

Enquanto a estrutura da empresa ia sendo montada, foram convocados os escritórios de engenharia já contratados (GUANDÚ do Rio de Janeiro e PLANIDRO de São Paulo) para elaboração dos projetos de Cuiabá e Corumbá. E, também, o Escritório do professor Couto, da Universidade Mackenzie de São Paulo, para estudar as 8 cidades menores que, à época das contratações anteriores, isoladamente, não despertaram o interesse das empresas de projetos.

A lei que criou a SANEMAT previa o aporte de capital para a companhia, destinando uma anualidade de 5% do orçamento do Estado, para atender o abastecimento de água e remoção de esgoto em todas as cidades do Estado de Mato Grosso. Embora o Governador Pedro Pedrossian tenha promovido uma reestruturação administrativa, com significativa melhora da arrecadação e contenção dos custos, a demanda por investimentos nas diversas áreas de responsabilidade estadual do seu plano de governo era muito maior do que as disponibilidades financeiras.

Para superar esta dificuldade, o governador incumbiu-o de contatar as autarquias que tradicionalmente aplicavam recurso nos Estado, como SUDAM e DNOS, visando conseguir cooperação para a execução do plano de saneamento desejado. Apresentou-nos ao Eng. Jose Roberto de Andrade Pinto do Rego Monteiro, então diretor do BNH, que a ele havia prometido ajuda para os projetos de saneamento básico do seu governo.

Destas gestões, a SANEMAT conseguiu receber da SUDAM – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia um valor que cobriu parte das despesas com os vários projetos em andamento. E do DNOS – Departamento Nacional de Obras e Saneamento, a doação de 2.000 metros de tubos de ferro fundido de 500 milímetros de diâmetro, para a adutora de Cuiabá, cuja primeira linha previa 4.000 metros de tubos de 550 milímetros. Tal doação já se constituía em boa ajuda, sendo esse o motivo daquela linha de recalque apresentar trechos de 02 diâmetros diferentes.

 

(*) NEILA BARRETO é jornalista, escritora, historiadora e Mestre em História e escreve às sextas-feiras para HiperNotíciasE-mail: [email protected]

 

 

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