Steffano Scarabottolo
Certa ocasião visitei o editor do jornal Folha de São Paulo, jornalista Borys Casoy. Fui esclarecer a ele alguns projetos que estávamos tocando na Amazônia que visava a ocupação racional daquela extensa área e pedir o apoio do seu jornal.
Fiz essa peregrinação também em outros importantes órgãos da imprensa nacional: O Globo, do doutor Roberto Marinho e o Jornal do Brasil, da Condessa.
Antonio Callado escreveu um primor de editorial, intitulado Cofre Fechado, onde aumentou as nossas responsabilidades. Dizia que a nossa rica Amazônia só poderia ser conquistada com as chaves do conhecimento para abrir o riquíssimo cofre até então fechado.
Em todos os encontros que tive ficou claro o óbvio: só manda quem sabe fazer.
Aqui na selva, Ceremecê, o grande chefe xavante, repetia ao seu grupo que ninguém ensina o que não sabe.
Borys me contou que a Folha era uma empresa jornalística familiar, mas, para alguém da família assumir alguma função, tinha que cumprir uma série de metas.
Dentre elas: fazer o curso de graduação em jornalismo ou administração, onde apenas duas faculdades eram aceitas – a da USP e Fundação Getúlio Vargas; fazer estágio obrigatório em, pelo menos, dois dos maiores jornais dos Estados Unidos e Inglaterra.
No retorno ao Brasil, com certificado de bom aproveitamento, era então admitido na empresa, não como diretor ou assessor da presidência, mas na recepção, até alcançar o último degrau da hierarquia empresarial.
Isso acontece na iniciativa privada, cujo fracasso é a falência.
Leio nesse mesmo jornal, passado tantos anos desse encontro, a dificuldade que o Senado da República encontrou para designar entre os seus membros um relator para conduzir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Aqueles que foram preparados para a missão, se negam a assumir a responsabilidade de fazer um relatório do julgamento de um Procurador Federal da Justiça, e colega de parlamento.
Sabem que quem sai na chuva se molha e, naquela Casa de Leis, não existem santinhos.
Li a relação daqueles que foram convidados e não aceitaram a missão honrosa. Tive vontade de rir. Quase todos já estiveram envolvidos em processos de ética no exercício do mandato parlamentar.
Outros, mais pragmáticos, não querem sequer ser lembrados. Sabem que o feitiço poderá virar contra o feiticeiro.
Dos membros da Comissão da CPI, dois nomes chamaram atenção dos brasileiros pelo seu passado: Collor de Melo e Jucá! O lider dos caras pintadas é senador, e pertence a esse grupo.
Na vida privada a moeda do sucesso é o conhecimento e a ética. No Congresso Nacional isso é o que menos importa.
Tenho até a impressão que o empresário goiano é tão poderoso, que o senado brasileiro tem receio de julgá-lo e mostrar à nação que está totalmente contaminado pelas águas milagrosas dessa cachoeira que, pelo volume de água, detém grande parte da nossa riqueza hídrica.
Se poucos acreditavam nas comissões de ética - mais política que ética - essa demora na escolha do relator é sugestiva de rabo preso.
Fico pensando que estamos vivendo em plena democracia em país republicano.
Alguém disse que a democracia é a melhor forma de governo para manter as coisas como estão, e republicano ficou reduzido ao nome do partido do Tiririca.
Bom mesmo é viver em Mato Grosso, Estado que só possuía um bandido, que agora mora no sul.
O seu espaço foi ocupado por novos personagens, dizem que, inclusive, da cachoeira que mete medo em senador.
Só manda quem sabe.
Aceitar mandar na CPI do Senado, no caso do senador de Goiás, é missão para quem não sabe.
E quem não sabe, não manda. Sai dessa.
(*) GABRIEL NOVIS NEVES é médico, professor fundador da UFMT e colaborador de HiperNoticias. E-mail: [email protected]
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