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Artigos Quinta-feira, 02 de Janeiro de 2020, 08:22 - A | A

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Quinta-feira, 02 de Janeiro de 2020, 08h:22 - A | A

SUELME EVANGELISTA

Aniversário de Cuiabá, a primeira fake news da História

SUELME EVANGELISTA

Reprodução

Suelme Evangelista

Se estivéssemos virado o ano de 1917/1918 ontem certamente teríamos muitas comemorações, folguedos e cururus em Cuiabá pela comemoração do seu aniversário de emancipação politica. Isso mesmo, até 1917 o aniversário de Cuiabá era comemorado no dia 01 de Janeiro.

E estaríamos comemorando ontem não 301 anos, mas 292, porque a contagem antes tinha como marco de fundação  a elevação do Arraial pra Vila Real do Bom Jesus do Cuiabá em 1727. Segundo o grande historiador Dr. Carlos Alberto Rosa, o maior cuiabanista vivo, a data oficial da fundação de Cuiabá é 01/01/1727 e não 08/04/1719.

Pela legislação portuguesa o status administrativo de uma localidade pra formalmente se tornar cidade era definido através da implantação de algumas instituições públicas:  o pelourinho que servia não só para castigar os escravos, mas para publicar as normas do ordenamento urbano e social, bandos, cartas régias e portarias; a criação da câmara municipal que representava a nobreza e a governança local, composta por homens "bons" ou de pureza de sangue (via de regra portugueses) e a edificação da Igreja Matriz.

Estas 3 instituições representavam no mundo português o poder local e o status administrativo da cidade, seria a grosso modo comparado com os dias atuais a emancipação de um distrito que se torna em município.

 A vila foi oficializada inclusive com a presença do Capitão General de São Paulo Dom Rodrigo Cesar de Menezes que governou São Paulo a partir de Cuiabá durante 11 meses. Isso mesmo, Cuiabá foi capital de São Paulo quase um ano.

Então porque a mudança da data? Dom Aquino Corrêa que foi arcebispo de Cuiabá e que assumiu o Governo do Estado entre 1918 e 1922 tinha como missão apaziguar as disputas pelo poder das elites regionais entre o sul (atual Mato Grosso do Sul) e o norte e evitar a divisão do Estado.

Dom Aquino tentou integrar e pacificar as duas regiões através de um amplo programa cultural e educacional:  criou o Hino do Estado, o brasão oficial, visitou todas as cidades e mudou por decreto o dia do aniversário de Cuiabá para o dia 08 de abril de 1919,  pela resolução n. 790, de agosto de 1918 e na oportunidade no seu governo comemorou o bicentenário da capital. E agradou ainda a igreja que comemorou no mesmo ano os 25 anos dos salesianos em Mato Grosso -1894-1919.

Foi uma boa jogada política do bispo para tentar pacificar os ânimos das intensas e sangrentas disputas divisionistas com um calendário de festas e comemorações tendo inclusive fundado no mesmo ano o Instituto Histórico de Mato Grosso entre outras comemorações e publicações.

Havia outras alegações do bispo, que no dia 01 de janeiro chovia muito não dava pra comemorar e além de tudo o réveillon atrapalhava as festividades porque os cuiabanos passavam o dia inteiro “de ressaca” das comemorações do ano novo.

Alegou também a descoberta de uma suposta ata de criação de Cuiabá de 1919 que ninguém sabe e ninguém viu até hoje e uma citação esparsa na obra de Barbosa de Sá primeiro cronista de Cuiabá sobre essa fundação.

Fato é que a partir de então começou a se comemorar em 8 de abril o aniversário da capital, mesmo com a bronca dos historiadores.

As iniciativas de Dom Aquino em tese parecem não ter dado muito certo pois o mesmo terminou seu governo saindo pela porta dos fundos da residência dos governadores cheio de problemas na administração, dívidas e conflitos políticos. Mas não vejo essa saída tão mal assim, pois suas medidas culturais protelaram a divisão de Mato Grosso por pelo menos 58 anos, já que Mato Grosso do Sul só veio a se separar de fato em 1977, seu revisionismo histórico funcionou.

Havia uma época em que os governantes sabiam das consequências dos seus atos no futuro ao longo da história e manipulavam elas ao bel prazer, era a eficácia politica do poder simbólico.

Estamos vivendo novamente uma época de revisionismo histórico onde governantes tentam também mudar a história deliberadamente para preservar determinadas memórias e perpetuarem seus poderes.

Portanto, esse fenômeno de fakwnews e revisionismo histórico que falamos tanto nós dias atuais vem desde os tempos de antanho e não nasceu com as redes sociais, como muitos supoem.

Os reis egípcios acreditavam que a imortalidade era jamais serem esquecidos, por isso construíam catatumbas colossais. Outros governantes criaram monumentos, lugares da memória, calendários e datas, como Papa Gregório XII que criou nosso calendário cristão em 1582 e o imperador romano Júlio César que incluiu um mês no calendário em sua homenagem, julho.

Dom Aquino ficou na história por ter criado uma série de símbolos que até hoje representam nosso Estado e pela comemoração dos 200 anos de Cuiabá. O que causa estranheza é um líder religioso dessa grandeza buscar sua eternidade na memória social através da construção de símbolos terrenos,  quando deveria crer na imortalidade da alma e na salvação  do paraíso pela fé e pelas boas ações realizadas. Realmente a política parece  não ser coisa de Deus mesmo.

 

(*) SUELME FERNANDES é analista político e Mestre em história.                                                                                                                                                                                                                                              

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