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AgroHiper Sexta-feira, 03 de Julho de 2020, 10:12 - A | A

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Sexta-feira, 03 de Julho de 2020, 10h:12 - A | A

Frutas antes desperdiçadas se tornaram fonte de renda para comunidade de Paranaíta

Atividade iniciada de forma espontânea deu origem à Associação das Mulheres do Porto de Areia Branca (Ampa) e atualmente se apresenta como alternativa viável de renda na pequena comunidade de 16 famílias.

REDAÇÃO

 

divulgação/ICV

porto areia branca

“Meu pai dizia: vou levar meus filhos para Mato Grosso porque quero que minhas filhas sejam professoras”, diz Iraci Tenutti, moradora da comunidade rural Sagrada Família, localizada em Paranaíta, município no norte de Mato Grosso, a cerca de 800 quilômetros de Cuiabá.

Era outubro de 1979 quando a família de Iraci, então com quinze anos, saiu do pequeno município de Araruna, no Paraná, e migrou para o estado do Centro Oeste.

O sonho do agricultor, que era analfabeto, realizou-se. Duas mulheres dentre os nove filhos do casal paranaense hoje lecionam na cidade de Paranaíta, onde vivem com a mãe, que aos 74 anos deu início aos estudos e se formou no segundo grau.

Iraci ficou no destino escolhido pelo pai, falecido em 1998. “Era difícil, mas melhorou muito. Principalmente depois da chegada da energia, no início dos anos 2000. Aqui tem tudo, hoje não troco esse lugar por nada.”

Foi onde conheceu seu marido, Jandir, de quem junto sobrevive da venda de polpa de frutas, queijo, leite e, mais recentemente, doces.

Anos atrás, Iraci reuniu as mulheres da comunidade no prédio de uma antiga escola para preparar goiabada, doce de leite, de castanha-do-Brasil, cocada e outros doces de frutas que, de tão abundantes na área, acabavam desperdiçadas.

A atividade iniciada de forma espontânea deu origem à Associação das Mulheres do Porto de Areia Branca (Ampa) e atualmente se apresenta como alternativa viável de renda na pequena comunidade de 16 famílias.

“A maioria chegou na juventude aqui [na comunidade] vinda do Paraná e ficou. Estamos há 40 anos no mesmo lugar”, conta com orgulho a comunitária, presidente da associação.

Quando a família de Iraci chegou a Mato Grosso, o governo brasileiro dava continuidade ao projeto de ocupação da Amazônia iniciado ainda na década de 1960. O objetivo era aliviar pressões sociais ligadas à concentração de terra em regiões do Nordeste e do Sul do país.

Em 1973, aproximadamente dois milhões de hectares da região norte do estado foram repassados a companhias privadas de colonização e a área destinada à empresa Indeco (Integração, Desenvolvimento e Colonização) deu origem a formação de Paranaíta, assim como aos municípios de Alta Floresta e Apiacás.

A agricultora lista o que as famílias encontraram em excesso nas novas terras: mato, mosquito e malária.

O incentivo para permanecer nas terras inóspitas era a esperança de mais qualidade de vida. Esse propósito era nutrido e transmitido à família pelo pai, que trabalhava motivado pela possibilidade comprar a própria chácara.

“A gente não deixou nada no Sul e ele sempre dizia sempre que aqui a gente teria condições de construir alguma coisa”, conta.

Inicialmente, as famílias abriram pasto para o cultivo agrícola, depois começaram a criar gado, atividade de maior rentabilidade e que se consolidou como a atual principal fonte de renda das famílias.

Para complementar os ganhos, no início dos anos 2000 a comunidade formou uma associação para promover a piscicultura e o cultivo agrícola por sistemas agroflorestais (SAFs). “Não deu certo, as pessoas largaram o projeto, mas o plantio ficou”, diz. Mesmo abandonadas, plantas como os coqueiros prosperaram e os frutos chegavam a estragar.

 

Transformando o excesso 

“Num domingo, veio uma amiga da cidade e falou ‘por que vocês não começam a aproveitar essas frutas? Faz doce pra vender’”, recorda Iraci. A agricultora gostou da ideia e a compartilhou com as outras mulheres da comunidade, que se entusiasmaram.

Reservaram uma tarde para testar a confecção dos doces, continuada desde então. “Viemos ajustando a maciez, nível do açúcar, para deixar melhor”, conta.

Os quitutes são feitos a partir da castanha-do-Brasil, de frutas cultivadas nas propriedades e arredores e do leite do gado manejado pelos comunitários. “Foi juntar o útil ao agradável. Tínhamos a matéria prima que estava se perdendo. Resolvemos aproveitar”, relata Isete Rinaldi, uma das fundadoras da associação.

As iguarias passaram a ser vendidas em feiras, mercados e encomendadas para eventos comemorativos, como festas de aniversários e até casamentos. As vendas mantiveram-se estáveis e satisfatórias até 2016, quando a exigência de nota fiscal pelos mercados limitou a comercialização dos doces às feiras.

“Não conseguimos nos encaixar no mercado ainda”, diz Isete.

Antes disso, em 2013 a associação foi formalizada para que as doceiras se candidatassem ao projeto da Usina Hidrelétrica (UHE) São Manoel de apoio às comunidades rurais da região onde se instalava.
Diante das baixas vendas de 2016, as doceiras dedicaram-se à busca pela viabilização da construção da nova cozinha-sede, benefício garantido pelo projeto aprovado.

Em 2018, a associação foi inclusa entre as organizações apoiadas pelo projeto Redes Socioprodutivas, coordenado pelo Instituto Centro de Vida (ICV) com financiamento do Fundo Amazônia/BNDES. A iniciativa busca o fortalecimento das cadeias produtivas implementadas de forma sustentável na região norte e nordeste do estado.

“O ICV chegou numa hora que estávamos bastante desacreditados e nos mostou os caminhos”, afirma Iraci. O instituto apoiou a associação na gestão administrativa com encaminhamento de documentos, elaboração de plano de negócios, adequação do estatuto e compras de equipamentos para a associação.

A técnica do ICV, Jakeline Cristina Prado, conta que a assessoria da instituição fortaleceu ainda mais a organização das mulheres, classificada pela técnica como exemplar.

 

Nova cozinha-sede e acesso a mercados

Em fevereiro deste ano, pouco antes do decreto de pandemia do novo coronavírus pela Organização Mundial de Saúde (OMS), foi inaugurada a nova cozinha-sede da associação – conquista que Iraci define como “sonho”.

A construção de cerca de 100² tem área de produção dividida em setores de panificação e processamento dos doces e equipadas com fogão industrial, freezer, refrigerador, liquidificador, batedeira, relador, desfiador de alimentos, forno, mesas de serviço e balança digital. A estrutura também abriga sala de escritório, banheiros e depósito.

A nova estrutura ainda não foi estreada pelas mulheres, que tiveram de suspender as reuniões e a produção como forma de prevenção contra a disseminação do novo coronavírus (Covid-19). “Nossa situação atual é aguardar acabar essa pandemia e começar a vender nos mercados”, afirma, esperançosa, Iraci.

O ICV viabilizou o cadastramento da entidade no Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) para que as doceiras emitam nota fiscal e acessem novos mercados e a associação também será inclusa na Rota Local, iniciativa do projeto Redes Socioprodutivas que visa a inserção dos alimentos da agricultura familiar nos comércios locais.

Jakeline afirma que a associação de mulheres tem potencial de representar uma fonte de renda alternativa substancial para as famílias da pequena comunidade. “Isso tudo mostrou pra elas que essa produção é mais que um hobby. É uma integração entre elas”, diz.

Hoje, Iraci é uma das protagonistas e responsável pelas melhorias na área desbravada quando adolescente e que tornaram possível a vida melhor vislumbrada pelo seu pai. “É paz e sossego”, define o lugar.

 

(informações da assessoria)

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